Continuando a reflexão que apresentei na parte 1 desse artigo, uma outra fonte de inspiração e criatividade para as marcas de luxo é o storytelling, ou seja, a arte de saber contar histórias, como forma criativa de envolver a imaginação dos consumidores, desenvolver o componente intangível da marca e acrescentar valor ao produto.
A marca de champagne Pol Roger tem uma edição limitada ‘Sir Winston Churchill’, em embalagem cuidada e com um livrinho que fala da amizade que unia a família Roger e o político britânico, e conta episódios das estadias de Churchill na propriedade da família Roger na França, em Épernay, na região do champagne.
The Scotch Malt Whisky Society convidou 26 escritores e 26 designers para provas cegas de 26 marcas de whisky, para conversarem enquanto bebiam, se deixarem inspirar pela conversa, pelos aromas e paladares e criarem conjuntamente rótulos para as garrafas de whisky. Os escritores escreveram palavras soltas, pequenas frases e poemas e os designers deram interpretação gráfica a esses escritos. O resultado é uma caixa de colecionador com 26 garrafas de whisky, com rótulos originais e o livro ‘26’, que conta toda essa experiência vivida. Um sucesso de vendas!
A casa italiana Tod’s lançou a mobile App ‘My Life is in this bag’, que apresenta seis mulheres e as suas vidas. Conta histórias, mostra produtos e facilita a identificação das consumidoras com a marca.
Os desportos de elite são uma paixão das classes altas e uma fonte de inspiração para as marcas de luxo. Ralph Lauren adoptou há muitos anos a prática de polo, como imagem de marca dos seus produtos e logótipo. Prada lançou no ano passado uma linha de fragrâncias inspiradas em desportos náuticos. E a marca exclusivíssima de champagne Boërl & Kroff organiza e patrocina há vários anos, os torneios de snow-golf em Gstaad, onde milionários de todo o mundo se reúnem, para jogar golfe na neve e beber o mais raro champagne do mundo.
Anúncio Prada Luna Rossa |
Provocar os sentidos e proporcionar experiências são a essência do luxo. As marcas desse universo sabem fazê-lo muito bem. Six Senses é provavelmente a mais mediática marca de spas de luxo, em todo o mundo. O spa de Laamu, Maldivas conquistou o prémio de Best International Spa 2012 e prepara um buffet de experiências que desperta os 5 sentidos em simultâneo. O sexto sentido é a sensação conseguida quando os 5 sentidos são estimulados em conjunto.
Six Senses Laamu - Photo by Sakis |
El Celler de Can Roca, na Espanha, é o Melhor Restaurante do Mundo, tem 3 estrelas Michelin e deve o seu mediatismo essencialmente à criação de sobremesas com aromas de perfumes Bvlgari e Lancôme, entre outros. A sobremesa vem com uma amostra do perfume para o cliente poder comparar o aroma da sobremesa e da fragrância.
A primeira e única marca verdadeiramente de luxo nos telefones celulares - Vertu - produz manualmente cada peça, na Europa, com design de alta relojoaria, telinha com película fina de cristal de safira, revestimento em couro de lombo de crocodilo, sistema de som de alta fidelidade, com música exclusiva encomendada à London Symphony Orchestra, Serviço de Concièrge em qualquer parte do mundo e uma mobile App desenvolvida em parceria com a Ferrari, que indica ao proprietário, qual o espaço de estacionamento livre e seguro, mais próximo. Tudo isto para estimular os sentidos e provocar experiências.
Finalmente, o erotismo, sedutor e velado, também fornece esporadicamente a inspiração a algumas mentes criativas no mundo do luxo. Uma campanha publicitária de automóveis usados Premium Selection da marca BMW é prova disso. A publicidade mostra uma imagem de uma mulher muito sensual, o logótipo da marca BMW Premium Selection Usados e a frase: “Você sabe que não é o primeiro, mas será que você realmente se importa?” A mensagem é muito subtil, inteligente e certeira no seu público-alvo. Genial.
Anúncio da BMW |
E para além da elasticidade mental e da observação dos consumidores, a criatividade, sobretudo no universo do luxo, requer ousadia e assunção de risco. Séneca (4 a.C. - 65 d.C.) célebre filósofo do Império Romano dizia e cito “... os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é o de não arriscar nada. Existem pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada. Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem. Acorrentadas pelas suas atitudes, ficam escravas, privam-se de sua liberdade. Somente a pessoa que corre riscos é livre!"
António Paraíso
Consultor
www.antonioparaiso.com
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