22 março 2014

A Criatividade no Mundo do Luxo

(Parte 1, por Antonio Paraíso - Portugal)

O consumidor com um poder de compra despreocupado tem sempre expectativas muito altas, aprecia o inesperado que faz vibrar a vida e quando é surpreendido, raramente coloca em questão o preço. Por esses motivos, a criatividade permanente é um dos ingredientes fundamentais para que qualquer produto ou serviço de luxo, verdadeiramente o seja. Quo vadis, Luxus?

A capacidade criativa fascina. Sinto admiração pelas as mentes talentosas que criam, inspiram, provocam e surpreendem, seja nas artes ou nos negócios.

O livro “Memórias de um Amnésico”, do compositor e pianista francês Erik Satie (1866-1925) é um exemplo de criatividade fascinante e provocadora. Uma delícia para o intelecto. Satie já tinha revelado seu gênio na música e me surpreendeu com a sua forma de escrever.

Se nas artes, eu admito que a criatividade quase que vale por si própria, no mundo dos negócios não é assim e ela é matéria-prima para a inovação. De forma simplista, podemos dizer que a criatividade é a capacidade de gerar ideias originais, sendo a inovação, a capacidade de aplicar essas idéias ao negócio e, dessa forma, gerar produtos, serviços e processos com valor para o mercado.

No universo do luxo, o desafio constante é o de transformar a criatividade em rentabilidade, como muito bem afirma Maria Eugénia Girón, que foi minha professora em Madrid e é especialista em gestão de marcas de luxo.

E onde procuram as marcas de luxo a inspiração e essa criatividade tão necessária? Bom, desde logo, para ser criativo e surpreender, é essencial desenvolver e alimentar regularmente a elasticidade mental, a capacidade de pensar de forma elástica e fora do óbvio. Garantida essa condição, depois será importante observar regularmente os clientes.

Quem consome luxo, sobretudo por prazer pessoal e não tanto por competição social, normalmente vai ao teatro, lê livros, compra arte, ouve orquestras, gosta de desportos de elite, aprecia a beleza e a alegria de viver.

Consequentemente, as marcas premium e de luxo normalmente buscam inspiração e criatividade na arte e cultura, em storytelling, nos desportos de elite, na provocação dos sentidos, na vivência de experiências inesperadas e por vezes também no erotismo, sempre de forma sedutora, elegante e velada.


Charlize Theron para J´adore Dior 

Existem exemplos interessantes de todas estas fontes de inspiração e criatividade no universo do luxo. No tocante a arte, Louis Vuitton convida regularmente artistas plásticos para desenharem coleções exclusivas e decorarem as suas lojas em várias cidades.

Yves Saint Laurent em 1965 lançou uma coleção de vestidos, totalmente inspirada num célebre quadro do pintor Piet Mondrian.

A marca de acessórios de luxo Montblanc tem várias edições exclusivas de canetas, sendo as mais valorizadas no mercado dos colecionadores, as peças inspiradas em escritores notáveis, desde Wilde a Hemingway, de Dostoevsky a Kafka, de Voltaire, a Cervantes, Verne ou Proust, entre muitos outros vultos da escrita mundial.


Montblanc - Dostoevsky
Detalhes de cultura e etnografia motivaram também marcas conhecidas. Em 2011, a casa Hermès lançou uma edição limitada de vestidos inspirados no sari indiano. Vacheron Constantin, relojoeiro suíço, concebeu relógios com detalhes de máscaras tribais e arte primitiva. São verdadeiras peças de coleção e sedução.

E em 2009, John Galliano, que na época ainda estava na casa Dior, regressado de umas férias no Quénia, surpreendeu o mundo ao criar as sandálias Déese, cujo salto é uma mini-escultura da Deusa da Fertilidade da tribo Masai.


Dior Deesse Shoes

Foi o modelo de sandálias mais mediático de sempre da marca Dior e um dos mais desejados. Fim da Parte 1 – Em breve a parte 2

António Paraíso
Consultor
www.antonioparaiso.com

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