27 outubro 2013

O Luxo está se tornando mais verde (Parte 2)

A recessão mundial que dura há já 5 anos (começou em 2008 com a crise sub-prime e a falência do Banco Lehman Brothers, lembra?) afectou também a situação inanceira de muitas pessoas  que consomem luxo regularmente. De alguma forma, os obrigou a reavaliar os seus estilos de vida e a repensar os valores pelos quais se regem.

Entre outras, sentem preocupação crescente com o ambiente e privilegiam marcas que também a sintam. Quo vadis, Luxus?
(Parte 2)

E não podemos nos iludir: uma outra pesquisa recente, elaborada pela especialista Pamela Danzinger, que entrevistou mais de 1000 consumidores com rendimento anual acima dos 150.000 dólares, nos Estados Unidos, revela que cerca de 75% deles, admite que a sua decisão de compra de certos produtos é influenciada pela política ambiental que a marca comunica. E cerca de 65% desses consumidores garantiu que escolhe onde comprar, em função das práticas verdes regulares das marcas e lojas.

Por esse motivo, acredito que faz sentido refletir sobre as idéias de Daniel Esty, professor de política ambiental na Universidade de Yale e especialista internacional em desenvolvimento sustentável, cuja palestra eu assisti, numa conferência em Madrid.
Ele defendeu que as empresas devem apostar num plano de responsabilidade ambiental, estruturado em 4 tipos de ações a serem desenvolvidas e aplicadas, com o objetivo de:
:: Baixar custos de consumo de energia;
:: Reduzir riscos ambientais aos quais os clientes e a própria empresa possam estar expostos;
:: Saber potenciar a aposta numa estratégia verde;
:: Promover adequadamente o valor intangível da proposta verde da empresa; 

Este especialista aponta assim pistas inspiradoras para as marcas e empresas que queiram vencer num mercado cada vez mais e melhor informado, mais sensível ao impacto que o consumo tem no ambiente, estando esse mercado disponível para premiar as marcas com preocupações e valores semelhantes aos seus.

Há 3 meses, eu estive em Nova York, assistindo ao Fórum Mundial de Inovação e uma das palestrantes, a prestigiada professora Rebecca Henderson, da Universidade de Harvard, falou muito da importância que a proteção ambiental vai ter no futuro e das práticas que as empresas e marcas devem adotar para conquistar a fidelidade dos consumidores. Essa é uma forte tendência, que está vindo aí.

É também curioso o resultado da pesquisa Going Green to Be Seen, desenvolvido pelos professores universitários Griskevicius, Tybur e Van den Bergh. Essa pesquisa conclui que uma percentagem considerável de consumidores, que varia consoante a categoria do produto, compra “produtos verdes” e consome marcas ambientalmente responsáveis, não porque acredite nos méritos desses produtos, mas apenas porque quer ser visto como altruísta e porque consumir produtos e marcas amigas do ambiente é bem aceito pela sociedade. A pesquisa refere ainda que essa fatia de consumidores está mais preocupada com a sua imagem e posição social, do que propriamente com o ambiente.

Em qualquer dos casos, seja para conquistar o cliente que se preocupa sinceramente com a proteção ambiental, ou o grupo de consumidores que apenas quer ser visto como tal, a aposta das marcas de gama alta ou de luxo numa estratégia ambiental séria e consistente, é fundamental para poder vencer nos tempos futuros.

Mas uma vez colocado em prática esse plano ambiental, a marca não pode se descuidar. Nos dias de hoje, o mundo está em constante mudança, o mercado está num estado contínuo de fluidez e incerteza, obrigando a que as empresas e marcas estejam permanentemente atentas para reagir a essas mudanças e ajustar a sua presença junto dos clientes.

O sociólogo polaco Zygmunt Bauman chama The Liquid Society a esta sociedade em que vivemos, precisamente por essa característica de constante fluidez, mudança e incerteza. 

E não se prevê que ela volte a um processo de “solidificação”. Pelo menos, não nos tempos mais próximos.

António Paraíso
Consultor e Palestrante
www.antonioparaiso.com

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